Manuel Martins Guerreiro
Abril é tempo de esperança e inspiração para encontrarmos as melhores soluções na atual fase de desenvolvimento em tempos difíceis de globalização.
Celebramos Abril, no seu 48o aniversário e podemos afirmar que mesmo na dimensão temporal o 25 de Abril é superior e muito mais forte que o 28 de Maio
Portugal de Abril, da Liberdade, da Democracia e da Paz.
Portugal de todos e para todos os portugueses, é universal, é hoje um país prestigiado e respeitado, exactamente o contrário do que era na ditadura fascista e corporativa de Salazar e Caetano.
O 25 de Abril repôs a nossa relação histórica com outros povos e culturas, relação de abertura ao mundo e aos outros, dimensão essencial da nossa afirmação e independência, superando a visão e as relações do império colonial, muitas vezes impostas pela força das armas.
Hoje podemos realizar a nossa vocação universalista de abertura ao mundo e aos outros, de constructores de pontes e ligações mutuamente vantajosas; com o 25 de Abril soubemos privilegiar os anseios dos povos: português e africanos à liberdade e à independência, soubemos pôr fim à guerra colonial, longa de 13 anos, e lançar os fundamentos de uma relação de cooperação e solidariedade com vantagens mútuas.
Portugal foi pioneiro nesta profunda mudança da relação com os povos colonizados, rejeitando processos de domínio ou sujeição por outras vias, como sucedeu noutros casos.
Uma das singularidades do 25 de Abril foi a profunda adesão popular às linhas programáticas estabelecidas pelo MFA e a espontânea adesão popular num amplo movimento de participação directa na conquista e construção do seu futuro em liberdade e democracia.
O nosso Poder Autárquico Democrático, consagrado na Constituição da Republica Portuguesa foi obra desse dinamismo de base, de construção de uma Democracia participativa.
Outra linha de força da nossa democracia vem da própria forma como o movimento dos capitães e o MFA se organizaram e tomaram decisões, recorrendo a processos genuinamente democráticos, aplicados no seio de uma estrutura intrinsecamente hierarquizada como são as Forças Armadas; isto debaixo da ditadura, na clandestinidade e com uma guerra às costas ( ou talvez por isso).
Os processos e as novas relações desenvolvidas pelos jovens militares, permitiram um salto e um impulso extraordinários no fortalecimento da hierarquia da solidariedade e lealdade entre camaradas, impedindo que Spínola apagasse o MFA recorrendo à tradicional hierarquia militar e repetisse o 28 de Maio quando procurou ignorar o programa do MFA ou adiar as eleições constituintes.
Nenhuma circunstância pode ser invocada como desculpa para não estimular ou mesmo abandonar o exercício permanente das práticas democráticas. O exercício e alargamento da democracia a todos os níveis é condição essencial para a sua defesa e sucesso. Temos de saber distinguir o que são processos democráticos e o que são processos populistas ou de manipulação da opinião pública e de exploração da emoção.
A hierarquia populista ou do poder instalado é mesmo inversa da democrática, para os populistas primeiro vem a lealdade ao chefe, depois aos amigos e aos interesses e só por último ao povo, é a hierarquia do corporativismo fascista . Essa não é a hierarquia de Abril onde a primeira fidelidade é ao povo, à Constituição da República portuguesa e aos órgãos de soberania legitimamente constituídos.
A democracia defende-se e promove-se proporcionando a todos condições dignas de vida e de trabalho, garantindo-lhe justiça e os meios necessários para se organizarem respeitando a Constituição da República.
A melhor defesa e promoção da democracia é não permitir o seu confinamento, seja a que pretexto for, nem permitir a sua redução ao mínimo, apenas a expressão eleitoral; é incentivar os cidadãos a encontrarem formas adequadas para participarem na vida cívica nacional, a não se deixarem confinar por espartilhos partidários ou ideológicos; estimulá-los a colocarem a sua capacidade e energia criadora ao serviço da comunidade e da sociedade, estimular os jovens a uma participação cívica ao serviço da comunidade antes de iniciarem a vida profissional activa, criar um Serviço Cívico Nacional
Por outro lado Democracia não pode ser confundida com ditadura da maioria, ter maioria não significa ter razão, significa sim ter legitimidade para governar para todos visando o bem estar geral
Os princípios que resultaram do 25 de Abril e estão plasmados na nossa Constituição continuam válidos e inspiradores no actual mundo globalizado, o 25 de Abril soube pôr fim a uma longa guerra e acabar com um conflito armado, por via da negociação
da PAZ ,foi capaz de estabelecer relações de interesse mútuo, cooperação e solidariedade com outros povos, recusando relações de subserviência ou menoridade.
A celebração de Abril hoje não pode deixar de sublinhar, além dos valores da Liberdade e Democracia, o valor da PAZ, sem a qual tudo é posto em causa.
Assistimos hoje a uma agudização de conflitos no Mundo, à defesa e promoção da guerra híbrida; na Europa o conflito passou para forma de confronto armado que pode transformar- se numa guerra em escalada contínua.
Hoje no seculo XXI nada pode justificar: o recurso às armas como forma de fazer politica, a invasão de um país por outro, a violação maciça das suas fronteiras e a morte de milhares de pessoas inocentes. Tal acto merece a nossa profunda rejeição, as vítimas merecem todo o nosso apoio, não podemos confundir agredido com agressor, mas também temos de perceber que diabolizar povos ou fazer constantes apelos às armas e à continuação da guerra, não é a melhor forma para ajudar as vitimas, para limitar os horrores e consequências da guerra ou para procurar vias de negociação que levem à PAZ.
Nós, portugueses e militares de Abril, sabemos por experiência própria que não é por via da intensificação da guerra, não é pela via do maniqueísmo simplista dos bons e dos maus, pela diabolização dos outros que podemos criar condições para chegar a vias de negociação, redução da guerra e dos seus horrores.
Portugal, pelo seu prestigio readquirido com o 25 de Abril, pela sua história e saber diplomático pode e deve desempenhar um papel activo na procura de vias politicas no seio das organizações
a que pertence, em especial na ONU, para que se caminhe no sentido da negociação e PAZ.
Todos os povos e países têm direito à segurança e à prosperidade. Sabemos que não têm igual possibilidade para o conseguir. Sabemos que os mais poderosos tiram vantagem dos domínios onde têm supremacia ou hegemonia, mesmo com prejuízo de outros povos, não hesitando em agudizar as situações, provocando guerras híbridas e recorrendo ao uso da máxima violência das armas, recusamos tal forma de fazer politica.
Cooperação e solidariedade para com as vítimas da guerra e da agressão, SIM.
Apelos e estímulos ao nacionalismo xenófobo, NÃO!
Não confundir patriotismo com nacionalismo.
Uma coisa é amar a sua Pátria, sabendo respeitar os outros e as suas Pátrias, outra coisa é o nacionalismo irredentista que exclui e despreza os outros países e povos.
O 25 de Abril deu-nos legitimidade para ver a diferença entre patriota e nacionalista. Temos experiência no domínio da construção de pontes e negociação entre partes em conflito.
Além de minorar as consequências é necessário conhecer as causas para encontrar as vias politicas que permitam estabelecer uma paz duradoura.
É indispensável que se promovam todos os esforços junto das partes para que a diplomacia atue e para que as armas se calem.
O mundo de hoje é bem mais complexo do que no século passado, são muitas as variáveis em jogo nos campos: politico,
estratégico, económico, recursos naturais, financeiro, militar, comunicacional, ambiental, cultural e social. Há que saber explorar novos caminhos para o progresso da humanidade. Não podemos voltar a cair no cenário dos blocos ou potências antagónicas, nem na estigmatização dos que são diferentes de nós.
O 25 de Abril é uma inspiração. Os seus valores são atuais mais do que nunca.
A nós militares não nos faltou nem falta coragem para defender e lutar pela Paz, sabemos bem o que significa guerra, quais são algumas das suas causas, os seus custos e consequências ;
Não confundir isso com a defesa ou compreensão de acto de agressão .
Viva o 25 de abril Viva Portugal