Pensar a educação, apostar no futuro

No dia 22 de março de 2013 teve lugar um importante seminário virtual sob este tema, com intervenções introdutórias dos professores Cláudia Neves (Matemática), Margarida Gil (Português, Francês e Inglês) e Vladimiro Campos (Educação Física).

Ver a gravação completa da sessão, em vídeo

A seguir, o resumo da reunião.

Em 22 de Março de 2023 as Comunidades Abril organizaram o webinar subordinado ao tema “Pensar a Educação, Apostar no Futuro”, com a participação dos Professores Cláudia Neves (Matemática ), Margarida Gil (Português, Francês e Inglês) e Vladimiro Campos (Educação Física).
Participaram 42 internautas, muitos deles aderentes das Comunidades Abril.
Abriu a sessão Alcindo Ferreira da Silva, que durante vários anos liderou o ensino a distância na Armada e que começou por referir que o motivo deste encontro teve muito a ver com a justa luta dos professores.
Tomou a palavra o Prof. Vladimiro Campos, que começou por referir como a Educação chegou até aqui e que o maior ataque que que sofreu foi com a então ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues
( 2005/2009 ) com a implantação de reformas controversas:
. Professores Titulares ( aulas de substituição ) em componente não lectiva.
. Avaliação de desempenho dos Professores ( quotas disponíveis para somente 10% dos Professores do Agrupamento ).
. Lei dos cônjuges ( acabou )
. Foi alterado o modelo de gestão das escolas, passando a ser geridas pela figura do Diretor. Fim do órgão colegial ( Comissão Executiva ) para início do poder unipessoal.

  • A ESCOLA HOJE NÃO É DEMOCRÁTICA :
    . Conselho Geral, representatividade da comunidade escolar e social.
    . Fim da formação docente em horário laboral.
    . Professores deslocados ( Concurso Nacional ) para todo o país sem ajudas de custo.
  • DESVALORIZAÇÃO DO PAPEL DO PROFESSOR :
    . Reforma do 1º ciclo do ensino básico
    . Novo estatuto do aluno.
    . Reforma da Educação e formação de adultos.
    . Reformas curriculares.
    . Modernização das escolas : Parque escolar.
    . Foi introduzido o Plano Tecnológico da Educação.
    . Desvalorização das disciplinas de expressões em favorecimento de outras..
    . Há que mexer na rentabilidade dos nossos alunos e trabalhar a sua parte humana.
  • LUTA DOS PROFESSORES :
    . 6 anos 6 meses e 23 dias de trabalho efetivo.
    . Quotas de acesso aos 5º,e 7º escalões ( professores que merecem excelente, mas que não o têm porque não há quota ).. Critérios para atribuição de quotas injustos.
    . Ultrapassagem na carreira, colegas que se  efetivaram em 2013, todo o tempo de serviço contou para a carreira e quem se efetivou em 2006 continua no 4º escalão..
    . Casa às costas vai passar para a família às costas.
    De seguida tomou a palavra a Professora Cláudia Neves, começando por explicar o porquê desta luta e os vários problemas que afetam a Escola Pública, que cada vez tem menos qualidade..
  • INDISCIPLINA: PORQUÊ?
    . Alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos ( 2009 ).
    . Escola é contra-corrente.
    . Exemplos de possíveis medidas a adotar.
    . Maior responsabilização dos Encarregados de Educação.
    . Problema só se resolve com o envolvimento de todos ( municípios também ).
  • FACILITISMO CRESCENTE:
    . Uma escola que prepara mal os alunos. São a geração que mais tempo passa na escola, mas não a que mais sabe.
    . Lógica de ciclo.
    . Avaliação externa ( exames realizados nos finais de ciclo ).
    . Empobrecimento dos currículos.
  • ENSINO INCLUSIVO:
    . Número insuficiente de docentes do Ensino Especial.
    . Necessidade de formação prática sobre adaptações curriculares e diferenciação pedagógica e acomodações curriculares.
    . Unidades de Multideficiência e de ensino estruturado dos CAA com recursos físicos.
    . Assistentes operacionais com funções nas unidades de multideficiência sem formação específica..
    . Maior crédito horário nas escolas parabterapeutas dos CRI ( Centro de Recursos para Inclusão ).
  • RECURSOS HUMANOS NAS ESCOLAS:
    . Falta de Assistentes operacionais.
    . Falta de Técnicos de Segurança Social.
    . Falta de Psicólogos.
  • MODELO DE GESTÃO:
    . Desde 2008 a escolha do Órgão Executivo da Escola deixou de ser feita pela via eleitoral e com a participação de todos os professores de cada escola/agrupamento.
    . Os professores não se sentem representados.
    . Contrato atual : afastamento.
  • ATIVIDADE DA CARREIRA :
    . Não motiva, devido a uma progressão muito complicada, com excesso de burocracia.
    . Falta de condições para o exercício da docência.
  • O QUE QUEREMOS :
    . Escolas bem equipadas, com professores motivados, meios humanos satisfeitos com regras bem estabelecidas.
    . De seguida tomou a palavra a Professora Margarida Gil, começando por abordar o tema” LIÇÕES DO TEMPO LÁ ATRÁS”:
  • 1974 REVOLUÇÃO / EVOLUÇÃO :
    . Professores à pressa.
    . Campanha de alfabetização de adultos.
    . Professores que se dispuseram a ensinar mesmo sem receberem pagamento.
  • PANDEMIA 2019 :
    . Fazer do nada o máximo possível.
    . Os professores têm sempre respondido à chamada, ultrapassando precaridades várias, falta de materiais, de meios e condições, enfrentando crises económicas.
  • FAZER O FUTURO PRESENTE :
    . Não posso resolver o passado ( 1º Ministro , 1º trimestre, 18.01.23 )
    . Situação atual : degradação e declínio de valores no país. A escola é o primeiro local onde se sentem as problemáticas e alterações sociais.
    . Falta de autoridade ( família, alunos… ). Esta geração de pais espelha essa atitude, famílias desestruturadas, filhos em autogestão sem regras nem controle.
    . Ministério / Tutela desprestigia o papel dos professores e da escola desautorizando funcionários executantes de tarefas / falta de firmeza / legislação coerente que possa ser aplicada.
  • TRABALHAR NA CORDA BAMBA :
    . Os professores têm estado sempre debaixo de fogo. Exige-se-lhes:
        . competência científica  e profissionalismo
        . Sensatez, calma e educação esmerada.
        . Conhecimentos de psicologia, ensino especial e assistência social.
        . Que façam o papel da Família.
  • QUE APRENDIZAGEM ?
    . Preparar os alunos para tarefas e não para empregos/ profissões.
    . Atualmente as salas de aula albergam todos os tipos de alunos ( os que não querem lá estar –  indisciplinados; os que têm dificuldades e os que aprendem rapidamente )..
    . A inclusão está longe de funcionar adequadamente.
    . Necessário rever / modificar currículo e aprendizagem.
  • A experiência da pandemia mudou muito a educação em Portugal, muitos professores não se sentiram à vontade para ensinar usando programas..
  • O Futuro da Educação dependerá muito :
          . Do futuro do trabalho.
          . Da qualidade dos Professores.
          . Das condições em que as aprendizagens irão levar. 
  • ARMAS PARA MUDAR O MUNDO:
    . Temos que ensinar os alunos a serem mais autónomos, orientados para a resolução dos problemas.
     .Para aprender é preciso acender uma emoção no aluno.
     .Repensar e dignificar a função, o papel e a liberdade de ação dos docentes.
    A terminar a sua intervenção, a Professora Margarida Gil disse :” Vale a pena lutar por aquilo em que acreditamos e que é maior que nós”.

Terminado o período para as intervenções dos oradores deste webinar, passou-se à fase das perguntas..
Pediu a palavra Miguel Judas, tendo referido que a realidade que se vive hoje não tem nada a ver com 74, pois houve transformações profundíssimas. Esta república não tem nada a ver com Abril, hoje os professores são proletários. A estratégia do poder político tem em vista a degradação da escola Pública. Miguel Judas considerou que o espírito de missão dos professores deve continuar a existir e que a força dos professores tem que se refletir ao nível político.
De seguida tomou a palavra Martins Guerreiro, frisando que é evidente que os professores devem ter consciência da evolução da sociedade, que a Escola Pública é essencial e temos que assumir este processo com inteligência e muita articulação de forças..
Mais disse que contestar é mais fácil e temos que construir alternativas. O ataque ao serviço público faz parte de uma estratégia internacional (neoliberalismo no seu melhor). A terminar referiu que temos que saber lutar dentro do aparelho do Estado e manter uma solução que é boa e coerente.
Manuel Rodrigues pediu a palavra para dissertar sobre a importância da atividade física e desporto e sobre a integração no ensino da atividade física desportiva.
Margarida Gil usou da palavra alertando para a importância dos sindicatos e para a força de estarem juntos e que não devemos desistir da luta por um melhor ensino público.
Vladimiro Campos de seguida referiu que não há uma politica desportiva para o país, que é essencial haver uma política desportiva nacional e a terminar disse ” Temos que pensar num país novo”.
Miguel Judas pediu a palavra para referir que os professores têm formação, espírito de missão que excede o mero proletário do ensino. Propõe que os professores devem estabelecer unidades de intervenção com outras classes, problema sistémico da sociedade no seu conjunto, vamos ter de fazer unidades humanas, profissionais e cívicas.


As Comunidades ABRIL não são passivas. As nossas sessões devem ter continuidade em estudos a conduzir a tomadas de posição políticas. Este seminário virtual foi rico em pistas para isso e os intervenientes estão dispostos a essa continuação.
Apelamos aos que querem participar neste trabalho para que nos comuniquem a sua disponibilidade, para o endereço geral@comunidadesabril.net